História

Paranaíba é um município brasileiro da região Centro-Oeste, situado no estado de Mato Grosso do Sul. Fundada em 1838, Paranaíba teve importante papel na Guerra do Paraguai, pois foi rota de apoio logístico para a fuga dos civis envolvidos nesse conflito. A cidade é equidistante e a meio caminho entre Campo Grande e Uberlândia (MG) (dois importantes centros regionais e de serviços do Cerrado Brasileiro), ficando a pouco mais de 400 km de distância de cada uma. É portanto um importante entreposto comercial para quem costuma transitar entre essas duas cidades.

 

Origem

Período Pré-Colonial

De acordo com pesquisas arqueológicas desenvolvidas no nordeste do Mato Grosso do Sul, a região seria habitada por grupos humanos a pelo menos 10 milênios[11]. Em Paranaíba, abrigos de cavernas próximos a córregos como o Pedra Branca contém diversos sítios arqueológicos, como o MS-PA-01[12], MS-PA-02 Casa de Pedra[13], MS-PA-03[14], MS-PA-04A[15], MS-PA-04B[16], MS-PA-Triângulo da Serra[17] e MS-PA04C[18], onde foram encontrados fragmentos de ossos de animais, instrumentos de pedra feitos em arenito silicificado, alguns poucos fragmentos cerâmicos mais recentes, estruturas de combustão e grafismos rupestres predominantemente vermelhos. Em geral, os desenhos representam desde animais até formas geométricas, além de figuras abstratas ainda pouco compreendidas[19][20]. Alguns dos carvões encontrados no subsolo desses sítios foram datados pelo método Carbono 14, revelando períodos de ocupação que variam desde 11.400 anos Antes do Presente até 6710 +- 100 anos Antes do Presente[11][21][22].

Essas primeiras populações ameríndias não conheciam a agricultura, vivendo da caça e coleta de alimentos nos vales e morros do atual nordeste sul-matogrossense[19]. Obtinham matéria-prima para produção de ferramentas em afloramentos de arenito, sílex e outras rochas, também se utilizando de fibras vegetais, couro e ossos de animais. Indícios de cultivo e consumo de plantas domesticadas, além da fabricação e uso de cerâmicas para diversos fins datam dos últimos três ou quatro milênios, época em que a presença de povos falantes de idiomas Macro-Jê e Tupi-Guarani é reconhecida em toda a área entre os rios Sucuriú e Paranaíba. Localizados a céu aberto, os sítios arqueológicos MS-PA-05[23], Santana[24], Rio Paranaíba 22 (RP22)[25], Rio Paranaíba 23 (RP23)[26] e Rio Paranaíba 24 (RP24)[27] provavelmente representam antigas aldeias ou acampamentos de caça desses grupos indígenas, sendo identificados instrumentos líticos lascados, além de diversos fragmentos de cerâmicas.

Período Colonial

De acordo com as fontes históricas disponíveis, as primeiras expedições europeias a alcançar as margens do rio Paranaíba se depararam com várias aldeias Kayapó, povo de idioma relacionado ao tronco Macro-Jê[28]. Ao contrário de outros grupos indígenas da região, os Kayapó se concentravam nas zonas de florestas próximas de rios e locais com relevo colinoso, áreas com bastante fertilidade para a caça e plantação, estabelecendo aldeias com casas dispostas ao redor de uma praça descampada[29]. Registros arqueológicos encontrados em vários locais do Sudeste e Centro-Oeste indicam que os Kayapó habitam a região provavelmente desde o início da Era Comum[30][31].

Retratados como um povo guerreiro em documentações do período colonial e imperial, os Kayapó foram submetidos a diversas perseguições e massacres desde a chegada dos primeiros grupos de colonizadores europeus. Esses primeiros contatos ocorreram por meio das bandeiras paulistas do século XVIII, que atravessavam o sertão com o objetivo de capturar indígenas para servirem como escravos. A primeira descrição dos Kaiapó foi elaborada pelo sertanista Capitão Antonio Pires de Campos, o Pai-Pirá, no ano de 1723. Nesse ano, Antônio estava percorrendo o Rio Tietê, passando pelo Rio Grande até o Rio Paranaíba, e afirmou que acima desse curso d’água se encontrava o “gentio chamado Caiapó”. Nesse mesmo documento, Campos afirma que estes se organizavam em aldeias numerosas, cada uma governada por um cacique[32]. Por conseguinte, em 1742, Antônio Pires de Campos iniciou uma guerra contra os Kaiapó, atuando principalmente nas aldeias de Santana, Rio das Pedras e Lanhoso – locais situados atualmente na região do Triângulo Mineiro. Apesar da intensidade dos confrontos, os quais teriam se estendido até meados da década de 1750[33], há registro da presença Kayapó na região de Paranaíba até pelo menos 1848[33].

 

Século XIX: Fundação do povoado e criação da Vila de Santana do Paranaíba

Durante todo o século XVIII, a região entre os rios Sucuruí e Paranaíba não foi alvo de tentativas consistentes de colonização luso-brasileira. Somente em 1830 vieram os primeiros colonizadores, oriundos de Minas Gerais. Tratava-se das famílias Garcia Leal, Rodrigues da Costa, Correia Neves, Barbosa e Lopes, tendo à frente José Garcia Leal, Januário Garcia Leal Sobrinho e Luís Correia Neves. José Garcia Leal é considerado, ao lado de seu irmão Januário, líder dos colonizadores – seus familiares que estabeleceram fazendas de criação de gado três léguas do povoado de Sant’ana do Paranaíba, seduzidos pelas águas do ribeirão Ariranha e pela fertilidade do solo, que se prestava às várias culturas de subsistência. Luís Correia Neves, por sua vez, estabeleceu-se ao sul da vila, em águas do rio Quitéria[33][34]. Como em todo o contexto rural brasileiro desse período, essas grandes fazendas pioneiras em Paranaíba eram baseadas no trabalho escravo de afro-brasileiros e africanos, os quais foram trazidos em grandes quantidades pelas famílias que se estabeleceram na região.

O povoado original de Santana do Paranaíba começou a tomar forma na primeira metade da década de 1830, portanto, em terreno possivelmente doado por João Alves dos Santos[35]. Em 1836 erguia-se a primeira igreja, pela conjugação de esforços dos Garcia e do Padre Francisco Sales de Souza Fleury, primeiro pároco da freguesia recém-estabelecida. Segundo consta, Ana Angélica de Freitas, esposa do Capitão José Garcia Leal, teria fornecido uma imagem de Nossa Senhora Santana para a igreja[36]. Em 1838, foi criado o distrito administrativo subordinado à comarca de Mato Grosso, com sede em Cuiabá. Para além dos colonizadores pioneiros já citados, a localidade também atraiu migrantes das então Províncias de São Paulo e Minas Gerais. Esse afluxo de pessoas foi facilitado pela abertura da estrada do Piquiri, que ligava Cuiabá ao litoral por meio de rotas que atravessavam Araraquara e Uberaba, obra incentivada pela família Garcia Leal, já que a rota atravessava terras de sua propriedade[36]. O caminho que seguia em direção à Minas Gerais passava pelo chamado porto Alencastro, considerado o início da estrada do Sertão da Farinha Podre, antiga denominação dada à região do Triângulo Mineiro[37].

No dia 01 de Julho de 1857, a freguesia foi anexada à recém criada Vila de Miranda, e em 4 de julho de 1857 foi elevada também à condição d Vila, quando a povoação denominada Sant’Ana do Paranaíba, em homenagem a Nossa Senhora Santana, padroeira do lugar, foi elevada à categoria de vila, criando-se o município, desmembrado de Miranda.

 

ACESSO RÁPIDO